domingo, 10 de junho de 2012

Teletransporte e consciência


Imagine que saia no noticiário que cientistas conseguiram inventar uma máquina de teletransporte. Eles explicam que ela funciona assim: Você entra em uma máquina que "escaneia" seu corpo, por dentro e por fora, armazenando todos os dados que te definem, como altura, peso, número de fios de cabelo, configuração das sinapses no seu cérebro, todo último detalhe sobre sua estrutura física. Essa máquina então envia os dados para outra máquina em qualquer parte do mundo e te desintegra. A máquina que recebe seus dados do outro lado do mundo é alimentada com material orgânico e então lê os dados e te recria fielmente, com exatamente o mesmo tamanho, peso, configurações nervosas, etc. A máquina é testada com animais e finalmente com seres humanos, tendo resultados bem sucedidos. Pessoas entram na máquina e saem do outro lado com exatamente a mesma aparência física, mesma personalidade, mesmas memórias e mesma saúde. Centenas, milhares de pessoas entram na máquina e nunca nada dá errado. É a forma de viagem mais segura (considerando as estatísticas, ao entrar num avião ou carro por exemplo há uma probabilidade maior do que 0% de nunca chegar ao seu destino). Essa máquina, porém, nunca deu erro. Você entraria nela?

Eu não. Se você respondeu que sim, imagine que da vez que você entrou houve um pequeno erro: Você foi recriado(a) do outro lado com sucesso, saiu com a mesma aparência/personalidade/saúde/etc. Porém na máquina de origem houve um problema e você não foi desintegrado. E aí? O que acontece com a sua consciência? Fica no original? No novo? Em lugar nenhum? Nos dois? Se considerarmos que fica nos dois estaríamos assumindo que existe algo imaterial conectando os dois corpos, então descarto essa possibilidade. Pela descrição do "experimento mental", também não faz sentido pensar que ela ficaria "em lugar nenhum", afinal a máquina deu certo várias vezes e seu corpo foi recriado com uma consciência. Se considerarmos que o escaneamento não te mata, e que a máquina não te desintegrou, então você permaneceu acordado(a) o tempo inteiro, e não faz sentido assumir que você perderia a consciência. Ou seja, basicamente a máquina te copiou. Fez um clone já adulto, com as mesmas memórias que você. Um novo indivíduo é criado achando que tudo deu certo e que foi teletransportado, e o original fica achando que o teletransporte falhou. Se os operadores da máquina vissem o erro e te falassem: Opa, deu um erro! Você não foi desintegrado(a). Mas não se preocupe! Você já foi recriado(a) do outro lado e está bem, por favor entre na máquina que te desintegramos e fica tudo certo". Você entraria? Creio que não. Mas então, tem certeza que você entraria da primeira vez? Não é a mesma coisa que estaria acontecendo? Uma cópia sua seria criada e você seria simplesmente morto.

Feitas essas considerações, imagine agora que inventassem uma máquina que não usa outro material, mas transfere seus átomos por um cabo de alguma maneira para o outro lado e te reconstrói usando os mesmos átomos que te compunham anteriormente. Imagine porém que o átomo do seu pé pode parar na cabeça e vice-versa, mas ainda assim a sua estrutura física continua inalterada, e as pessoas que entram saem com as mesmas memórias/personlidade etc. Você entraria? Eu não sei. Parando para pensar, qual é a diferença desse caso para o anterior? O que garante que aquele seria realmente "eu" com a minha mesma consciência, e não apenas uma consciência recriada fielmente? Vamos imaginar então que ela funciona de forma mais segura: Os átomos do pé vão para o pé e os da cabeça para a cabeça para exatamente a mesma posição, recriando exatamente a mesma configuração anterior. Agora é mais seguro entrar? Eu não teria segurança. Será que o risco realmente diminui? Por que diminuiria? O que é nossa consciência afinal? Se ela for interrompida corremos o risco de nunca tê-la de volta? Eu só entraria em uma máquina de teletransporte em que eu pudesse estar consciente durante todo o processo. Uma máquina que funcionasse mais como um "portal" do que como uma máquina de recriação. Mas pensando bem, será que perder a consciência é algo tão "perigoso"? Afinal toda vez que dormimos perdemos a consciência. Como ter certeza de que ela é "recriada" a cada manhã? Que diferença faria se fosse? Basicamente diferença nenhuma. No final das contas "consciência" parece um conceito tão sutil, tão vago. Parece mais um artifício linguístico, quase como algo que na verdade não existe objetivamente. Bem, não sei mais aonde quero chegar com tudo isso então novamente deixo a questão em aberto.

2 comentários:

  1. Se a maquina foi testada e nunca falhou, eu entraria. Assim como atualmente entro em uma aeronave que, apesar de segura, ja falhou em algumas ocasioes. E em ambas uma falha minima durante a viagem poderia custar a vida.

    Em relacao a nao desintegrar, talvez pudesse ter um mecanismo de acordar teleportado somente depois do primeiro ser desintegrado, nao sendo desintegrado o teleportado seria morto antes de abrir os olhos. E um mecanismo inverso tambem é necessário, o teleportado tem que provar estar consciente de quem ele eh e do que fez.
    Com ambos vivos eu nao sei como seria ver um outro individuo identico fisicamente e que até certo ponto possui a mesma vivencia que a minha. Como seria a conversa com ele, caso nos encontrássemos? O fato é que o eu atual estaria presente nos dois individuos. Ambos se lembrariam dessa discussão, da minha infancia e da minha vida até aquele momento. Ambos teriam a consciencia de ser o Anderson um que viajou e outro que não conseguiu viajar.

    Dormimos e acordamos todos os dias e essa rotina nos tranquiliza. É uma rotina testada todos os dias, o que nos retira o medo de dormir. Algumas criancas, ou mesmo adultos com algum tipo de doenca mental tem medo de dormir e acordar no dia seguinte. Talvez muito cansado e com mito musono, o prazer de fechar os olhos e se entregar ao sono faria esse medo desaparecer. Ou entao tomar um sonifero poderoso, mas aí corre-se o risco de sofrer algo que dificilmente será lembrado.

    O que quero dizer é que, apesar do impacto inicial e da discussao em torno de uma maquina dessas, os testes e comprovacoes fariam com que as pessoas entrassem nela. Aqueles paranoicos, que hj nao entram em aviao, elevador ou mesmo escadas rolantes (acredite, existem!) nao entrariam nessa maquina.

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    1. I think it's very hard to compare this imaginary machine with an airplane - not only because I'd get on a plane but not on a teletransporter :P - but also because here it's less a matter of safety than one of existence (and consciousness, of course). If you send a piece of paper by fax the information will reach its destination and then you might as well burn the paper but the bottom line is that the original will no longer exist. In the same way you, as the person who gets on the machine, will cease to be. Puf, there goes Alexandra! :P

      The only possibility that I see for you to claim that it's safe to get on one of these machines is if you believe we have a soul which is outside of our bodies and merely attached to it. In this case, our soul could travel through time and space and simply jump to our copy; this way, we wouldn't lose our "essence", what defines us.

      At least this is my point of view. What do you guys think? :)

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