segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Intelectual

Intelectual. Esse é um adjetivo positivo ou negativo? Perguntando assim tão diretamente achava difícil que alguém respondesse que é negativo. Mas surpreendentemente, a maioria das pessoas não responde que é positivo sem hesitar ou ao menos mencionar que pode ser positivo ou negativo.

Todos sabemos que os assuntos que predominam no Brasil são futebol, outros esportes (como UFC recentemente), novela, vida pessoal de celebridades, BBB etc. Quem ousa sair disso, é rapidamente taxado de "pseudo-intelectual", "cult" ou algo do tipo (como esse post ilustra bem). Todos rótulos negativos que ridicularizam as preferências de quem desvia desse padrão. Mas qual é a diferença entre um "pseudo-intelectual" e uma pessoa com interesses intelectuais genuínos? Entendo que se auto-proclamar intelectual seja encarado como uma atitude pretensiosa, assim como se auto-proclamar "bonito" ou "inteligente", e concordo que olhar com desdém para tudo que é popular é radical e arrogante. Além disso tenho que reconhecer que existem clichés que quase demandam ridicularização: uma série de "slacktivists" que fazem propaganda de esquerda no facebook e aparecem com máscara de Guy Fawkes em passeatas vagas "anti-corrupção/anti-capitalismo" que não têm nenhum objetivo muito concreto e acabam passando a imagem de ser pouco além de um evento social que reúne pessoas do mesmo estilo sob pretextos políticos. O resultado é que alguns acabam vendo-os como apenas mais uma categoria: existissem os "metaleiros", os "playboys", e os "hippies maconheiros barbudinhos estilo Che Guevara".

População "indignada" protesta contra a ganância corporativa e a desigualdade social.
Mas isso é motivo suficiente para tratar qualquer demonstração de interesse intelectual com tanto ceticismo? Faz sentido deixar que as pessoas que reduzem a intelectualidade a um estilo, uma subcultura, "manchem" a palavra e acabarem tornando-a negativa? Consideremos a definição do Michaelis online:
in.te.lec.tu.aladj (lat intellectuale) Pertencente ou relativo à inteligência. s m+f 1 Pessoa dada ao estudo. 2 Pessoa de grande cultura literária.
Sério? Tem como esse adjetivo ser visto, de forma geral, como negativo? Não faz sentido. Uma sociedade que pensa assim não parece estar saudável.

Mas OK, ainda que a palavra tenha adquirido associações negativas, é claro que ela ainda não é completamente ruim. Afinal, se pessoas que se auto-proclamam intelectuais são acusadas de serem pretensiosas, então a intelectualidade até certo ponto ainda é vista como qualidade. Mas até que ponto? Se auto-proclamar intelectual é pretensão demais. Usar a palavra "intelectual" é pretensão demais. Postar em redes sociais ou demonstrar qualquer interesse por assuntos intelectuais é pretensão demais. Discutir com amigos sobre assuntos intelectuais é pretensão demais. Resumindo, qualquer demonstração visível de interesse intelectual é pretensiosa, arrogante e portanto condenável. A intelectualidade no final acaba sendo algo que no fundo a gente até entende que é bom, mas que deve ser mantido em segredo a qualquer custo. Como isso pode fazer sentido? Como a manifestação de algo que é por definição tão positivo pode ser tão desencorajada?

Por algum motivo parece ter se desenvolvido no Brasil esse grande cinismo com relação à intelectualidade, uma grande paranóia. Quando se fala em "intelectual" todos logo pensam em "pseudo-cults", "intelectuaizinhos de esquerda", etc. Eu mesmo até pouco tempo atrás não usava essa palavra por nada. Eu sempre me interessei sobre questões "filosóficas", sempre gostei de questionar e discutir temas polêmicos e ideológicos, e sempre odiei frases da família "xxx não se discute". Mas esse interesse sempre foi visto com muito cinismo pela maioria das pessoas com quem eu me relacionava. E eu nem acho que seja "um exemplo de intelectualidade". Nunca li muitos livros (gostaria de ter lido mais) e consumo bastante entretenimento popular. Ainda assim, se eu e algum amigo mais aberto a essas questões estivéssemos discutindo, era comum que viesse um terceiro e dissesse "Ai, por que vocês estão discutindo isso?? Que papo chato! Vocês são malucos". Devo admitir que careço de dotes sociais e sensibilidade para determinar em que contexto é apropriado ou não puxar esses assuntos, mas tenho convicção de que esse fator não é o principal responsável pela reação negativa. A rejeição desse tipo de tópico parece bastante generalizada e acabou até reprimindo esse meu lado e me fazendo evitar esse tipo de conversa. E eu não acho que seja o único.

Mas será que é assim em todo lugar? Minha namorada, que é da Romênia, diz que por lá, por exemplo, o cenário é diferente. Lá os intelectuais são heróis que libertaram o país de uma ditadura comunista que devastou a nação e a deixou em um estado do qual até hoje não se recuperou completamente. Mas lá os intelectuais "venceram" e quando o ocidente conta a vitoriosa história da democracia liberal eles se saem como heróis. Já aqui, parece haver uma tendência direitista de associar intelectuais a reacionários que lutavam contra a ditadura militar. Rebeldes que "se não fossem pelos militares poderiam ter instaurado uma ditadura comunista no Brasil", e que hoje são associados a "defensores de um sistema falido que não deu certo em lugar nenhum". Antes que pareça que eu estou tomando partido, eu não necessariamente penso assim. Só estou descrevendo uma hipótese do que talvez seja a imagem popular.

“Só que tem muito intelectualzinho de esquerda que ganha a vida defendendo vagabundo. E o pior é que esses caras fazem a cabeça de muita gente” – Capitão Nascimento

Quando fiz intercâmbio na Suécia andava muito com franceses, alemães, islandeses etc e também nunca percebi de nenhum deles nenhuma reação negativa quando a conversa tomava rumos filosóficos/políticos/ideológicos. Já nos EUA a situação parece ser mais parecida com a do Brasil, pelo menos considerando séries como How I Met Your Mother e filmes críticos como God Bless America. Mas é claro que não se pode tirar conclusões a partir da simples experiência pessoal de um indivíduo, então chega de especulação.

Nesse episódio de How I Met Your Mother, sempre que o Ted faz algum comentário intelectual seus amigos fazem um barulho de pum.

Cena do filme God Bless America na qual Frank faz um discurso em resposta a um cínico colega de trabalho.

O fato é que, seja qual for o motivo, a sociedade brasileira como um todo é cínica e no geral vê a atitude intelectual como uma atitude esnobe e pedante. Um bom cidadão é "humilde" e "amigo do povo", enquanto a sofisticação é elitista e indesejada. Alguns podem achar que essa hipótese contrasta com a anterior, já que o anti-elitismo é frequentemente associado à esquerda. Mas não é necessariamente uma contradição. Seria ingênuo esperar que a opinião popular seja sempre coerente. Em todo caso, o ponto é justamente que todos têm seus motivos para ver a intelectualidade com cinismo. Sim, é claro que a humildade é uma virtude. Mas quando essa mentalidade começa a se tornar radical, passa a ser totalmente avessa ao progresso. As pessoas falam muito de como é importante "investir em educação", mas se esquecem de que a educação não é só na escola.
e.du.ca.ção sf (lat educatione1 Ato ou efeito de educar. 2 Aperfeiçoamento das faculdades físicas intelectuais e morais do ser humano; disciplinamento, instrução, ensino. 3 Processo pelo qual uma função se desenvolve e se aperfeiçoa pelo próprio exercício: Educação musicalprofissional etc. Formação consciente das novas gerações segundo os ideais de cultura de cada povo. (...)
– Michaelis online  
A educação é um processo contínuo e acompanha todo indivíduo, desde seu nascimento até o fim de sua consciência. A escola é só uma ferramenta, e é responsável por apenas uma etapa desta educação. Uma população educada não é apenas uma população escolarizada. Uma população educada consiste de pessoas que aprenderam a se auto-educar, e que fazem bom uso deste aprendizado a longo de suas vidas, mesmo anos depois da escola, graduação, pós-graduação ou qualquer que seja o título.

Se você às vezes chega em casa cansado, depois de um difícil dia de trabalho, e quer desligar a cabeça e assistir novela, BBB ou futebol, tudo bem, não há motivo para vergonha. Entenda se fizerem críticas a essas formas de entretenimento sem encará-las como pessoais, e se alguém sugerir que alguma dessas atividades é per se suficiente para te definir como um ser inferior, julgue-o apenas como o tolo arrogante e simplista que ele é, e não como o representante oficial máximo da intelectualidade. Mas se você tiver dificuldade em se lembrar da última vez que viu um documentário interessante, um filme inteligente, leu um livro com conteúdo ou teve uma conversa além do superficial, então reflita: será que você realmente valoriza a educação? Se você assumidamente não valoriza, isso também é seu direito. Mas pelo menos deixe aqueles que valorizam se manifestarem em paz.

10 comentários:

  1. Cara, tive que reler algumas vezes pra começar a entender o texto. A princípio, achei que ele não chegava a lugar algum (até porque o proprósito desse blog é meio indefinido mesmo I suppose). Aí a princípio, achei confuso. As perguntas não são exatamente respondidas, mas ao mesmo tempo também não são deixadas "em aberto" no final (já que o texto tem uma conclusão bem explícita sobre a convivência balanceada entre o ~pop~ e o ~cult~). Por isso, no começo, achei estranho e não entendi bem onde é que você queria chegar - começa falando de uma coisa mas do nada termina em outra.

    Tipo, a frase do estereótipo "hippies maconheiros esquerdistas" tá muito grande (e sem nenhuma "oração principal") e fica confusa num momento crucial do texto: qual é o problema dos "intelectuais" exatamente além dessa predisposição à implicância com eles na cultura brasileira/americana…? O "indignados" entre aspas na foto seguinte ilustra bem essa implicância meio sem explicação, tipo só pras aspas invalidarem o termo (que nem naquela notícia toda escrota e parcial que eu te mandei outro dia). Mas aí, meio paradoxalmente, você logo reclama dessa exata predisposição à implicância e fica meio confuso pra acompanhar.

    Mas relendo, é justamente do meio pro fim que a coisa fica mais clara e faz mais sentido, porque explicita (com os exemplos dos outros países) que no Brasil qualquer sinal de interesse social/cultural/artístico/filosófico é visto como pedantismo e, ao mesmo tempo, diretamente ligado a um "esquerdismo" forçado (que na elite brasileira/americana é algo ruim). Mas como assim? Você mesmo acabou de fazer isso parágrafos atrás…!? Não entendi o que você acha afinal de contas...

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  2. Outra coisa estranhíssima é a parte da "humildade" e "amigo do povo". Tipo, humildade e populismo é ~coisa de esquerda~ enquanto ~sofisticação e elitismo~ é coisa de direita. Só que, no seu texto, tá justamente invertido! Acho que o público de quem você tá falando é muito específico e não se trata exatamente do povão que de fato curte funk, pagode, novelas não-da-Globo e coisas realmente populares do tipo. Acho que você tá falando de um povo meio termo meio geração internet/classe-média mesmo, que acha Malhação escroto mas tolera American Pie, mas ao mesmo tempo repudia um filme preto e branco por algum motivo. E, no caso deles, não acho que são nem um pouco "amigos do povo". Só querem reclamar do "pseudo-cult" mesmo por terem uma tendência de direita, ou então por serem "modernos demais pra ainda acreditarem no socialismo" e essas coisas. No fundo, por mais que eles zoem filmes mudos, acho que são bem mais "elitistas" do que os que se enquadram no perfil "intelectual cult de esquerda".

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  3. LOL, geez, escrevi demais. Mas só pra concluir: apesar de tudo isso, eu concordo com o texto. Mas foi justamente muito esquisito concordar depois de tantas reviravoltas estranhas (das quais eu discordo, se é que eu as entendi) e que me confundiram aqui e ali, haha. No final, acho que "intelectual" mesmo, sem ser "pseudo", é isso: alguém que tenha respeito não só pelo que é cult e artístico e chique e aclamado, mas também se dá o trabalho de dar atenção ao popular - seja em busca de algo interessante, seja por distração ou entretenimento despretensioso mesmo.

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  4. Acredito que a desvalorização da educação esta intimamente ligada ao modo como as gerações(década de 60 ate hoje) que comandam os países de terceiro mundo (me refiro ao Brasil, mas muitos outros latino-americanos também podem se encaixar) foram "formadas". Não é muito difícil imaginar a razão pela qual os governos militares, que possuiam uma relação promíscua com a imprensa e as mídias em geral, tinham pouco interesse em educar e politizar a população. A mesma juventude que passou a sua vida sendo doutrinada a aceitar o hipócrita nacionalismo preconizado por esses governos não adiquiriu nenhuma base de conhecimento para atuar diante de uma transição ditadura-democracia. E cito essa geração especificamente, pois posso sentir grande diferença em relação à "educação política" que meus bizavós e avós tiveram. A maioria de origem bem pobre, sempre relatou com muita conciência o período político referente às suas juventudes, assim como a impotência diante dos governos ditatoriais. Em relação a transição ditadaura-"democracia" muitos dos que estavam no poder, lá permaneceram, criando uma cadeia de interesses que posterga a urgente reforma do nosso sistema educacional, assim como os mantem no poder. E é possível afirmar que a mídia possui um papel fundamental na formação desses indivíduos. A mesma mídia que (cuja relação com o poder permanece bem ativa) fomenta o interesse das classes C e D( o grosso do brasil, ou seja, o grosso dos votos) por futilidades em detrimento do sério. E para mim aí é que está a grande razão: as pessoas dessa geração NÃO GOSTAM DE SER SÉRIAS. O não sério, tido como o "jeito brasileiro" é valorizado pela mídia (leia-se, globo) cuja influência é óbvia. Um ciclo aparentemente sem fim, ou com um fim muito lento para que eu esteja vivo no final...

    Bruno de Brito Butter

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    1. Bruno, um dia eu ainda vou achar um plugin decente que me permita implementar botões de "curtir" no sistema de comentários do blog (já tentei o Disqus e IntenseDebate but no luck). Até lá, *curti* ;)

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  5. Olha, eu nao tenho certeza se o brasil eh tao diferente do resto em relacao a isso. acho que essa visao do intelectual eh semelhante em otros lugares. por exemplo, os nerds eram sujeitos zoados, nenhuma mulher gostava e etc. hj em dia virou "moda" ser nerd e entao apareceram os pseudonerds... para manter o visual, tem gente que usa oculos sem precisar. o povo nao ser serio eh um defeito e uma qualidade. ser serio eh se preocupar com questoes amplas do pais ou com a propria felicidade, com o "se dei bem"? o que eh mais correto pra vc?

    outra coisa, nem todos tem capacidadea sociais a ponto de encaixar assuntos coerentes a cada momento. Alguns parecem chatos, outros acabam se retraindo pois nao sabem falar do comum, e aquilo que sabe as pessoas n demonstram mt interesse... talvez falte conteudo "normal", necessario a socializacao. eu tenho um exemplo disso, uma amiga comecou a fazer triatlon e viciou. ela so fala de triatlon e nietzsche. viu filme tal? n, pop. viu novela? n, alienacao. viu o jogo de volei? prefiro triatlon. eh insuportavel... ela sabe tudo relacionado ao esporte e de suplementos, mas so fala disso.

    o intelectual que nao esta situado no mundo em que vive, que nao se importa com o cotidiano vai passar apuros no convio social. e com tanta informacao disponivek, isso eh algo mt dificil. se fechar em um grupo nao eh uma opcao a meu ver, eh o cobtrario da busca pela educacao, pela informacao.

    pra mim, o intelectual vai ser mal visto pelos igborantes como forma de inveja. os pseudo vao ver os medios com desprezo, como forma defesa da sua mediocridade.

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  6. – Outra coisa estranhíssima é a parte da "humildade" e "amigo do povo". Tipo, humildade e populismo é ~coisa de esquerda~ enquanto ~sofisticação e elitismo~ é coisa de direita.

    Como seu amigo Giovane falou no facebook, e eu em grande parte concordo, é complicado hoje em dia categorizar com tanta clareza o que é de esquerda e o que não é. Acho até que talvez eu não devesse ter usado a palavra “esquerda”. Mas de qualquer forma só usei por mim mesmo uma vez (a outra foi fazendo referência ao Capitão Nascimento), você que está colocando o resto do texto sob essa perspectiva. De qualquer forma essa perspectiva tem grande importância histórica e por isso continua meio que sendo “padrão” hoje em dia, então eu entendo e na verdade até pensei que isso pudesse ser visto como contradição. O que eu fiz foi tentar diminuir o palavreado político para evitar uma associação tão explícita (estava ainda “pior” antes, acredite hehe). Mas uma outra alternativa em que eu pensei (mas acabei não escolhendo) foi a de não mudar o texto, mas acrescentar um argumento me justificando. E o argumento é o de que não necessariamente o “imaginário popular”, a “intuição” do povo, tem que ser coerente. É uma coisa subconsciente, então não acho que seja necessariamente implausível as pessoas terem sentimentos hora “anti-hippie” hora “anti-elite” (ou “anti-esquerda” e “anti-direita”, só uma tentativa de evitar os termos hehe). Em todo caso, você não acha que essas pessoas “anti-intelectual” têm reações negativas contra ambos os grupos? O motivo eu não sei, no meu post eu só especulei sobre ele. Mas pelo menos é isso que eu observo.

    – Acho que você tá falando de um povo meio termo meio geração internet/classe-média mesmo, que acha Malhação escroto mas tolera American Pie, mas ao mesmo tempo repudia um filme preto e branco por algum motivo. E, no caso deles, não acho que são nem um pouco "amigos do povo"

    De fato talvez eu tenha escolhido mal o termo “amigo do povo”, e quando eu fiz meu esforço para tornar esse trecho “menos político” acho que ficou faltando essa mudança. Mas o que eu quis dizer é que uma pessoa tem que ser amiga da “maioria”. E maioria num sentido relativo, em que um jovem classe média faz parte da maioria desde que ele aja como “a maioria dos jovens de classe média”. Acredito que esses jovens rejeitem coisas intelectuais no geral numa reação de defesa pessoal. Eles não querem pensar, mas quando são acusados se sentem ofendidos, desprezados, “looked down on”, e aí numa atitude de revolta e auto-defesa reagem dessa forma (mais ou menos como um amigo meu, Ricardo, comentou por fora do blog), contra-atacando e defendendo sua atitude “normal, gente boa, leve, divertida” enquanto atacam a outra como “chata, metida e pedante”. Eles no geral não são “amigos do povo”, concordo, mas nessa hora é meio que a forma que eles acham para se defender, e até para confortarem a si mesmos e não se sentirem simplesmente burros. Pelo menos é essa a minha impressão. Nesse caso reconheço que tenha sido mais falha minha na hora de me expressar do que confusão sua por qualquer motivo, mas ainda assim não acho necessariamente CONTRADITÓRIO (por causa do argumento de que as pessoas podem ser incoerentes), só que realmente eu posso não ter passado a mensagem que eu pretendia da forma que eu escrevi.

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  7. – Outra coisa estranhíssima é a parte da "humildade" e "amigo do povo". Tipo, humildade e populismo é ~coisa de esquerda~ enquanto ~sofisticação e elitismo~ é coisa de direita.

    Como seu amigo Giovane falou no facebook, e eu em grande parte concordo, é complicado hoje em dia categorizar com tanta clareza o que é “de esquerda” e o que é “de direita”. Acho até que talvez eu não devesse ter usado a palavra “esquerda”. Mas de qualquer forma só usei por mim mesmo uma vez (a outra foi fazendo referência ao Capitão Nascimento), você que está colocando o resto do texto sob essa perspectiva. De qualquer forma essa perspectiva tem grande importância histórica e por isso continua meio que sendo “padrão” hoje em dia, então eu entendo e na verdade até pensei que isso pudesse ser visto como contradição. O que eu fiz foi tentar diminuir o palavreado político para evitar uma associação tão explícita (estava ainda “pior” antes, acredite hehe). Mas uma outra alternativa em que eu pensei (mas acabei não escolhendo) foi a de não mudar o texto, mas acrescentar um argumento me justificando. E o argumento é o de que não necessariamente o “imaginário popular”, a “intuição” do povo, tem que ser coerente. É uma coisa subconsciente, então não acho que seja necessariamente implausível as pessoas terem sentimentos hora “anti-hippie” hora “anti-elite” (ou “anti-esquerda” e “anti-direita”, só uma tentativa de evitar os termos hehe). Em todo caso, você não acha que essas pessoas “anti-intelectual” têm reações negativas contra ambos os grupos? O motivo eu não sei, no meu post eu só especulei sobre ele. Mas pelo menos é isso que eu observo.

    – Acho que você tá falando de um povo meio termo meio geração internet/classe-média mesmo, que acha Malhação escroto mas tolera American Pie, mas ao mesmo tempo repudia um filme preto e branco por algum motivo. E, no caso deles, não acho que são nem um pouco "amigos do povo"

    De fato talvez eu tenha escolhido mal o termo “amigo do povo”, e quando eu fiz meu esforço para tornar esse trecho “menos político” acho que ficou faltando essa mudança. Mas o que eu quis dizer é que uma pessoa tem que ser amiga da “maioria”. E maioria num sentido relativo, em que um jovem classe média faz parte da maioria desde que ele aja como “a maioria dos jovens de classe média”. Acredito que esses jovens rejeitem coisas intelectuais no geral numa reação de defesa pessoal. Eles não querem pensar, mas quando são acusados se sentem ofendidos, desprezados, “looked down on”, e aí numa atitude de revolta e auto-defesa reagem dessa forma (mais ou menos como um amigo meu, Ricardo, comentou por fora do blog), contra-atacando e defendendo sua atitude “normal, gente boa, leve, divertida” enquanto atacam a outra como “chata, metida e pedante”. Eles no geral não são “amigos do povo”, concordo, mas nessa hora é meio que a forma que eles acham para se defender, e até para confortarem a si mesmos e não se sentirem simplesmente burros. Pelo menos é essa a minha impressão. Nesse caso reconheço que tenha sido mais falha minha na hora de me expressar do que confusão sua por qualquer motivo, mas ainda assim não acho necessariamente CONTRADITÓRIO (por causa do argumento de que as pessoas podem ser incoerentes), só que realmente eu posso não ter passado a mensagem que eu pretendia da forma que eu escrevi.

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  8. ser serio eh se preocupar com questoes amplas do pais ou com a propria felicidade, com o "se dei bem"? o que eh mais correto pra vc?


    Bom, ser "sério" pode significar várias coisas. "esse funcionário é muito sério" (responsável, disciplinado, comprometido etc), ou "Nossa, seu amigo é muito sério" (Não ri, fica quieto, de cara feia, não se entrosa). Mas focando no sentido positivo, o "intelectual" que eu defendo no post. Acho que é possível ser inteligente, estudado etc, e ainda assim ser "mau" e egoísta. Então acho que é possível ser intelectual e não ligar para os problemas do país, e só se importar com o sucesso pessoal. Pra mim a intelectualidade não tem a ver com altruísmo (se importar com o coletivo, "os problemas do país") ou egoísmo ("se dei bem"). Tem a ver com você pensar. Ter interesse em algo além do superficial. Valorizar e por consequência dedicar seu tempo a aprender algo e se aprofundando naquilo por iniciativa própria. Uma pessoa pode ser super interessada em história, economia e política, estudar tudo a respeito do assunto, e usar isso para ser um
    grande ditador, ou um magnata super ganancioso. O Lex Luthor é um bom exemplo de um intelectual "mau" e egoísta, haha. Da mesma forma pode se interessar em política, filosofia, o que quer que seja, e ser um grande pacifista, lutar contra a corrupção no mundo, etc.


    E eu concordo que os que ridicularizam tudo que é intelectual o fazem em parte por "inveja". Mas um tipo estranho de inveja. Por que eles têm a opção de abrir a mente para outras coisas, mas não o fazem. Aí quando se sentem "atacados" pelos "intelectuais", se defendem ridicularizando-os, ao invés de olharem para as próprias ações e tentarem justificá-las (o que seria difícil, creio eu). Na verdade não sei nem se chamaria de inveja, de tão subconsciente que eu acredito que o processo seja. Se eles se sentem ameaçados pela intelectualidade do outro, é porque subconsciente eles entendem que a intelectualidade é, de alguma forma, vista como positiva. Mas para não se sentirem inferiores eles atacam essa premissa (de que a intelectualidade é algo bom), e tentam desacreditar a intelectualidade, distorcê-la e desprezá-la como algo cômico e forçado. E o mais incrível é que parece eles parecem bastante bem sucedisos.

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